Quando uma mulher, após permanecer por
algumas parcas semanas solteira, é considerada encalhada, a gente passa a
enxergar como se deturpou o conceito de relacionamento. Estar solteira hoje em
dia tem um sentido bem menos amplo que antigamente. Passam-se algumas semanas
sem um namorado e chovem convites para churrascos que irão desencalhar esta
mulher, como se ficar com um punhado de testosteronas ambulantes fosse mudar a
condição de solteira atual.
Não muda, isso é fato. Mas, para muita
gente, ficar é uma maneira de estar solteira sem se estar sozinha. Se alguém
entendeu esta frase, por favor, me explique. Matutei por não menos que duas
horas por alguma lacuna semântica que encaixasse no que eu sinto, mas não
consegui. Não veja graça em sair catando homem como tomada por uma espécie de
calor interno que me impedisse de passar um fim de semana em casa, não vejo
graça em me apresentar para alguém e cinco minutos depois estar aos beijos. Não
vejo graça, e me perdoem a possível caretice inserida nisso, mas eu sou do time
que prefere o romantismo contido num namoro duradouro. E se está cada vez mais
difícil encontrar homens que pensem como eu, é por culpa das mulheres que
desistiram do sutil jogo da sedução e acabaram aceitando algo mais fácil, uma
noite com cinco pessoas, misturando nomes com salivas indeterminadas, resumindo
a festa numa ressaca emocional sem dia seguinte. Eu não tiro a razão delas — há
épocas destinadas à experimentação. No meu caso, este período durou um dia
apenas e logo após isso vi que não tinha muito talento para tais modernidades.
Meu ensaio-erro é outro. A melancolia que
me toma algumas semanas antes do dia dos namorados é mais fundamentada na
solidão que inevitavelmente se adquire se é alguém como eu do que no estar
sozinha ou não. Estar namorando nem sempre garante a ausência do sentir-se
sozinho, ficando então nem se fala. Não vou morrer por passar outro 12 de junho
sozinha, aproveito esta data de outras formas. É apenas uma data tão comercial
quanto o Natal se tornou. Dia dos Namorados, quando eu estou namorando, é todo
dia.
Durante um bom tempo, acreditei piamente
que as sucessivas decepções de minha vida amorosa tivessem um pé nessa minha
tendência à oficialização. Hoje, vejo que não há relação alguma. Está na
personalidade de cada um querer ou não ter alguém que valha a pena ao seu lado,
é uma questão de personalidade, não de vanguardismos. Quem quiser que fique, eu
não consigo, me desculpem. Se ser encalhada é deixar de buscar por sentimentos
sinceros, assumo-me uma encalhada eterna. Não tenho vocação para pandeiro, não
saio de mão em mão para que o samba continue. Meu ritmo é outro. A dança comigo
possui passos um pouco mais elaborados. Coleciono as rosas, coleciono os
momentos, os olhares, os carinhos. E quando a festa acaba, eu quero mais do que
um telefone ilegível num guardanapo de bar.
(Por Jamie Barteldes - http://www.patio.com.br/cronica/2004/setembro/encalhada.htm)
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