Muita gente acredita que corpo e alma estão ligados aos
surgimento de enfermidades entre as mulheres, principalmente com até 30 anos
A telefonista e recepcionista Aline Thaís Gunsett, 26
anos, desenvolveu o que a psicologia classifica como doença psicossomática ou
distúrbios somatoformes, enfermidades com manifestações físicas, que são
geradas por preocupações, problemas psicológicos. Com cobranças por todo o
lado, as pessoas podem desencadear doenças aparentemente ligadas ao corpo, que,
geralmente, não aparecem nos exames bioquímicos ou de imagem. Estima-se que de
10 a 15% dos pacientes que são atendidos por clínicos gerais apresentem esses
distúrbios, que costumam aparecer antes dos 30 anos e durar por toda a vida,
sendo mais comum em mulheres. Aline conta que nunca havia trabalhado numa
central telefônica. No seu primeiro emprego em Florianópolis, ela se deparou
com um telefone de seis linhas externas e 39 ramais internos, dois chefes e 30
funcionários, começou adoecer. “Tudo começou com a enxaqueca, porque tinha
pânico de o meu telefone tocar, o meu chefe ouvir e eu não atender. Até para ir
no banheiro ou tomar uma água tenho que levar o telefone”. A recepcionista
começou ficar estressada, ter dor de cabeça, tudo que ela comia dava ânsia,
depois refluxo, em seguida começou a vomitar de duas em duas horas. A estudante
é ansiosa e perfeccionista, por isso conseguiu melhorar com tratamento médico a
base de ansiolítico, só depois é que começou a cuidar da úlcera. Principais
sintomas Os sintomas psicossomáticos são os mais diversos, depende muito da
formação cultural da pessoa, da pré-disposição genética e e uma série de outros
fatores. O psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial de Florianópolis
(CAPS), Luiz Márcio Alves de Ávila, revela que esse tipo de doenças é muito
comum, principalmente em pessoas de nível sócio-cultural menor. Especialmente
as que apresentam maior dificuldade em explicar os seus sintomas, suas
dificuldades e o que estão sentindo.
Elas acabam apresentando isso por meio de uma dor, um
sintoma. “Não consegue expressar de maneira verbal, falar para as pessoas que
ela está incomodada, que achou muito ruim e não gostou, enfim, interioriza esse
sentimento, essa emoção, que se transforma num sintoma físico”, revela o
psiquiatra. Esses sintomas psicossomáticos, ou distúrbios somatoformes, como
denomina a psiquiatria, podem desencadear desde uma fraqueza ou uma tontura,
até a paralisação de um membro. “Os mais comuns são gastrointestinais como:
náuseas, úlceras, vômitos, diarréias; neurológicos: fraquezas e problemas
sexuais. As dores de cabeça também são muito comuns”, explica. Ávila acrescenta
dizendo que é uma somatização, a soma de vários situações, que acabam
desencadeando doenças. “Por exemplo: quando o indivíduo tem uma série de
problemas e acaba tendo uma dor de cabeça, esse é um sintoma somático que é
explicado por uma causa psicológica. Você fica pensando muito nesses problemas,
fica preocupado, criando alternativas, se irrita, fica triste e no final do dia
você está com uma dor de cabeça”, afirma. “Se forem feitos exames não é
encontrada nenhuma alteração, nenhum tumor ou causa explicável dessa dor. É uma
preocupação psicológica gerando um sintoma físico”, exemplifica. Para a
psicóloga do Serviço Social da Indústria (Sesi), Aline Fregapani Silva
Garghetti, todas as doenças podem ser psicossomáticas, porque “psicossomática é
uma forma de compreender as doenças”. Alguns especialistas acreditam que o
corpo é um todo e responde a estímulo de maneira equilibrada, ou seja, uma
questão social. Estudos revelam que o estado da alma ajuda a curar doenças O
psiquiatra Luiz Márcio Alves de Ávila aponta que uma das maneiras de se tratar
as doenças psicossomáticas é cuidar da causa do problema, como por exemplo a
depressão que está causando os sintomas ou tratar com psicoterapia. “Porque
pode ser que alguém da família dela esteja morrendo e essa pessoas não consegui
chorar e acaba expressando essa tristeza através de uma dor de barriga. O
tratamento nesse caso é para o paciente saber expressar tudo isso que está
gerando esse sintoma físico”, exemplica. Foi isso que fez Silvia Fabiana
Lavigne, 32 anos, dona de casa, que procurou um psicólogo que diagnosticou uma
depressão. “Eu estou entrando em depressão profunda por não saber agir com
certas situações”, diz ela. Silvia revela que conforme a circunstância ela
precisa de atitude. “Mas às vezes eu não tenho, daí eu travo e isso me agonia
porque eu quero fazer as coisas, mas não posso”, diz Lavigne. Ás vezes me dá
palpitação, taquicardia, aceleração das batidas do coração, ansiedade, suo as
mãos e até tenho insônia”, acrescenta ela. Tratamento O médico patologista e
presidente da Associação Catarinense Psicossomática (ACP), Horácio Chikota,
estudioso das doenças psicossomáticas há 13 anos, diz que é necessário entender
como o ser humano se conhece e como ele se entende para compreender e conseguir
tratar as doenças psicossomáticas. “Temos que partir do sujeito e não daquilo
que é externo a ele. Senão vamos sempre estar culpando aquilo que é externo por
uma responsabilidade que ele tem com sua própria vida”, afimar Chikota. O
profissional diz que a medicina hoje estuda a matéria nos seus limites
tangíveis, o que é palpável. “Uma lógica de causa-efeito linear, num único
sentido, em linha reta. Somente do que ele consegue observar como por exemplo:
o vírus, os agente químicos”, observa o presidente da ACP. O profissional
acrescenta que as pessoas têm que “ir um pouquinho além, na situação
primordial, buscar o sujeito para entender todas essas alterações”. Ele
acredita que resgatar a compreensão do sujeito faz parte da psicossomática.
(Por Marinês Barboza)
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