Amar Demais... Um Erro!

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domingo, 22 de janeiro de 2012

Crônica : Amores intraduzíveis


Uma amiga namorou por seis meses um americano, nascido em Santa Bárbara, Califórnia. Lá conheceram-se e por lá ela ficou. Apaixonou-se pelos olhos dele, pelos ombros dele, pelo gosto musical do gringo, que batia 100% com o seu. Passavam tardes inteiras ouvindo John Mellencamp, Elvis Costello e Neneh Cherry, apesar de ela não ter a mínima idéia do que diziam as letras. Seu inglês empacou no the book is on the table e dali nunca saiu. Ele, por sua vez, achava que no Brasil se falava espanhol, idioma que tampouco dominava. Tudo bem. Nenhum dos dois estava mesmo a fim de papo. Beijavam-se adoidado, caminhavam juntos na beira do mar, andavam de bicicleta, tomavam cerveja nos bares e compartilhavam canções.
Foram almas gêmeas por meio ano e tudo o que precisavam era dizer hello quando se encontravam e bye bye quando se despediam. O resto funcionava na base da mímica, do tato e do encanto. Mas não há amor que resista à mudez eterna. Ela resolveu voltar para o Brasil e não se correspondem por
razões óbvias. Falar no telefone, nem pensar. The end.
Eis que minha amiga, ao voltar, conhece um paulista. Português fluente, como o dela. De certo modo, sentiu-se aliviada: ela poderia perguntar a ele o que achou de um filme, poderia conversar sobre as diferenças entre Lula e FHC, poderia deixar recados na sua secretária eletrônica e dizer coisas safadas no seu ouvido. Depois da greve de silêncio nos States, uau, ela soltaria o verbo. Foi então que aconteceu.
Parecia que um era do Zimbábue e o outro da Croácia. Ela não conseguia falar duas frases sem que ele retrucasse. Se ela dizia uma coisa carinhosa, ele achava que era ironia. Se ela falava sério sobre qualquer assunto, ele achava que era deboche. Se ela perguntava algo do passado dele, ele a chamava de invasiva. Se ela brincava com o cabelo dele, ele
se ofendia. Completamente dessintonizados.
Quando era ele quem tentava melhorar o clima, também não funcionava. Se ele concordava com ela, ela achava que ele tinha aprontado alguma. Se ele ria de suas piadas, ela achava que ele não tinha entendido. Se ele pedia o mesmo prato que ela no restaurante, ela dizia que ele não tinha personalidade. Se ele pedia um prato diferente, era porque estava criticando a escolha dela. Amor nenhum resiste ao desentendimento eterno.
Acabou. Não se correspondem por motivos óbvios e falar no telefone, também, nem pensar.
Minha amiga procura novo namorado e espera ter mais sorte na próxima vez. "Brasileiro ou estrangeiro?", pergunto eu. "Pouco importa", me responde ela, "desde que venha com legendas".

Martha Medeiros

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