Já ouviu falar nas meninas que abusam das
bebidas alcoólicas e privam-se de qualquer tipo de comida? Conheça o assustador
mundo das drunkoréxicas
Apesar de não ser
um termo médico oficial, a drunkorexia sugere um fenômeno envolvendo dependência
alcoólica e transtorno alimentar. Ela ocorre principalmente entre mulheres
jovens, que bebem excessivamente e não comem o dia todo para compensar as
calorias ganhas com o álcool.
Os anoréxicos, por
restringir a ingestão de calorias, costumam evitar o álcool. Mas há aqueles que
bebem para manter a calma antes de comer ou aliviar a ansiedade depois de
exagerar na refeição. Outros enxergam nos drinks sua única forma de sustento
alimentar. “Existem mulheres que temem colocar uma uva na boca, mas que não
vêem problema em beber cerveja”, afirma Douglas Bunnell, diretor do ambulatório
do Renfrew Center, na Filadélfia, Estados Unidos. O Renfrew Center é um dos
poucos lugares que oferecem tratamento tanto para os que abusam das substâncias
químicas como para os que sofrem de distúrbios alimentares.
Bunnell,
ex-presidente da Associação Nacional de Transtornos Alimentares, afirma que
parte do problema está na obsessão das mulheres em ter um corpo esbelto e na
aceitação social de beber ou usar drogas, fatores que se potencializam quando
associados ao conceito de que entrar para um grupo de reabilitação é quase um
privilégio, coisa chique. “Excesso de álcool virou algo bacana e descolado, e
perder peso e ficar magra é um imperativo cultural para as jovens nos Estados
Unidos”, diz ele.
Psicólogos afirmam
que esses distúrbios estão ligados à necessidade de amenizar dores emocionais
através do consumo de substâncias químicas ou da ansiedade provocada pelo comer
excessivo e a eliminação forçada.
Judy van De Veen,
de 36 anos, vive na cidade de Gillette, em Nova Jersey, e é anoréxica desde os
24. Ela lembra que passou fome durante dois meses, comendo pequenas quantidades
de comida de baixa caloria. Depois começou a devorar pizzas inteiras, caixas de
cereal e muita fast food para forçar o vômito em seguida. Tinha dias em que
gastava cerca de 80 dólares em refeições.
Judy começou a
fazer tratamentos no final dos anos 90. Em 2001, ainda combatendo a bulimia,
ela passou a beber. Se comia enquanto bebia, vomitava, mas então bebia
novamente para enganar a sensação de perda e manter-se embriagada. Segundo
especialistas, muitos bulímicos usam o álcool para forçar o vômito. Mas eles
também costumam passar mal porque bebem de estômago vazio. “No início, eu não
chegava perto do álcool, porque sabia que tinha muitas calorias”, lembra Judy.
“Mas a minha doença é a do ‘mais’: eu sempre quero mais, independentemente do
que seja.”
Depois de dois
anos enfrentando o problema, Judy começou um novo programa de reabilitação.
Passou os dois anos seguintes entrando e saindo de seis diferentes clínicas, o
que lhe custou 25 mil dólares do próprio bolso, pois não tinha plano de saúde.
Mas como nenhum desses programas contra o alcoolismo também era focado nos
distúrbios alimentares, o problema de Judy aumentou. Ela diz que está sóbria há
três anos, mas ainda enfrenta a bulimia. Mãe de Cheyenne, um bebê de 14 meses,
Judy afirma que a gravidez a ajudou a progredir na luta contra a doença.
“Quando engravidei, passei a ter uma boa desculpa para comer.”
Trish, uma
enfermeira de 27 anos que mora em Ohio e trabalha com pacientes cardíacos,
sofre de transtornos alimentares há dez anos e recentemente se internou no
Renfrew Center. Foi a sua quinta vez em um centro de reabilitação ou hospital.
Assim como Judy, Trish também enfrentava a anorexia quando encontrou o álcool.
Ela chegava a desmaiar por falta de comida, sofrendo com terríveis dores
estomacais. Trish concordou em ser entrevistada sob a condição de ser usado
apenas seu primeiro nome para proteger a própria privacidade. Conta que chegava
a jejuar de oito a 12 horas seguidas, ansiosa pelo término do expediente e o
primeiro gole. “O álcool provavelmente foi o responsável por manter algum peso
em mim”, disse ela durante um tratamento de desintoxicação que começou no
Ano-Novo e seguiu por oito semanas. “Beber me ajudou a ser menos ansiosa”,
acredita. “Mas, quanto mais eu bebia, maior era o meu distúrbio alimentar e
vice-versa.”
Pesquisas apontam
que o abuso de álcool está crescendo entre mulheres, e que elas também são mais
propensas a desenvolver distúrbios alimentares. Segundo um estudo publicado no
ano passado pelo jornal Biological Psychiatry, de 22% a 35% das pessoas
bulímicas lutam contra o álcool ou as drogas, assim como 20% e 25% das
anoréxicas. Kevin Wandler, vice-presidente de serviços médicos na clínica
Remuda Ranch, especializada tanto nos transtornos alimentares como na
dependência química, diz que o tratamento mais fácil é o do vício de álcool e
drogas, pois eles não são necessários para a sobrevivência. “Agora, se sua
droga for a comida, isso será um desafio!”
No caso de Trish,
ela deixou o Renfrew Center no dia 22 de fevereiro. “Eu não tinha energia nem
para rir”, lembra. “Mas agora aprendi a não ter vergonha do que passo. E com
isso quero me amar e me perdoar.”
Glossário
Entenda o significado de cada uma dessas estranhas palavras
Entenda o significado de cada uma dessas estranhas palavras
Drunkorexia: consumo exagerado de álcool casado com falta ou perda
de apetite.
Manorexia: versão masculina da anorexia.
Ortorexia: obsessão por alimentos ditos saudáveis – eliminando do cardápio qualquer tipo de gordura e conservantes artificiais, por exemplo. Pessoas nessa condição podem se privar seriamente de nutrientes necessários.
Diabulimia: diabéticos que se recusam a usar insulina para não engordar. Apesar do nome, esse distúrbio não envolve o vômito.
Transtorno da compulsão alimentar periódica: ato de comer compulsivamente, especialmente alimentos com alto nível de sal e açúcar, mas que não envolve a prática comum do vômito para compensar as calorias ganhas.
Manorexia: versão masculina da anorexia.
Ortorexia: obsessão por alimentos ditos saudáveis – eliminando do cardápio qualquer tipo de gordura e conservantes artificiais, por exemplo. Pessoas nessa condição podem se privar seriamente de nutrientes necessários.
Diabulimia: diabéticos que se recusam a usar insulina para não engordar. Apesar do nome, esse distúrbio não envolve o vômito.
Transtorno da compulsão alimentar periódica: ato de comer compulsivamente, especialmente alimentos com alto nível de sal e açúcar, mas que não envolve a prática comum do vômito para compensar as calorias ganhas.
O problema no Brasil…
Conheça a trágica história de duas meninas que não conseguiram vencer a batalha contra a anorexia e o alcoolismo
Conheça a trágica história de duas meninas que não conseguiram vencer a batalha contra a anorexia e o alcoolismo
De acordo com a
psicóloga Silvia Brasiliano, coordenadora do Programa de Atenção à Mulher
Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo, as mulheres
com deficiência alimentar têm oito vezes mais chances de apresentar dependência
química ou alcoólica, enquanto as dependentes têm cinco vezes mais
possibilidades de desenvolver distúrbios alimentares. “São problemas que
desligam da realidade, pois a vida delas se restringe apenas à comida – ou a
falta dela – e ao álcool”, diz. A seguir, o depoimento de duas jovens
brasileiras que viram a doença de perto.
Medo da vida “Eu tenho um certo problema em encarar a realidade. Não consigo
lidar com algumas emoções, decepções, expectativas frustradas… Acho que é por
isso que eu vomito. É o jeito que encontrei de colocar essas coisas para fora.
É algo cíclico: eu vomito, aí bebo, vomito e bebo de novo. Primeiro, porque
sinto enjôo; segundo, porque bebida tem muita caloria. Preciso fugir da
realidade, o tempo inteiro.”
Flávia, 19 anos, é estudante de psicologia e sofre de bulimia desde os 14
Flávia, 19 anos, é estudante de psicologia e sofre de bulimia desde os 14
Tempo perdido “A Pati estava na pior fase. Antes de morrer, ela pesava 28 quilos
e tinha 18 anos. A família nunca tinha dado bola. Acho, até, que foi por isso
que ela parou de comer e começou a beber: queria chamar a atenção. Ela me
contava que bebia para esquecer o problema da anorexia, e também tomava
remédios controladores de apetite. Ela morreu de parada cardíaca, em 27 de
junho de 2007.”
Dayane Kátillen, 21 anos, tem anorexia, com fases alternadas de bulimia, e era a melhor amiga da Pati
Dayane Kátillen, 21 anos, tem anorexia, com fases alternadas de bulimia, e era a melhor amiga da Pati
De barriga vazia e tanque cheio
A vida desregrada das celebridades e a falsa sensação de glamour que
elas transmitem para nós
O entra-e-sai das
estrelas de Hollywood nas clínicas de reabilitação tem sido o assunto mais
quente das colunas de fofoca. A atriz Lindsay Lohan, de 21 anos, por exemplo, é
freqüentadora assídua do Cirque Lodge, um dos centros mais famosos dos Estados
Unidos. Mas também há a Promises, em Malibu, a Wonderland, em Hollywood, a
Meadows, no Arizona… Em comum, todas essas clínicas vivem abarrotadas de gente
famosa: Britney Spears, Kirsten Dunst, Mary-Kate Olsen, Nicole Richie, Tara Reid,
Amy Winehouse, Kate Moss… A lista é longa.
Em entrevista à
revista Vanity Fair, Lindsay Lohan afirmou que já teve bulimia e problemas com
álcool. Tara Reid é outra que tem chamado a atenção. Seus problemas vão de uma
lipoaspiração malsucedida a uma anorexia nervosa não confirmada. A contar pelas
fotos recentes da moça, de biquíni num hotel de Bali, ela realmente está de mal
com o garfo e a faca. Ex-melhor amiga da patricinha Paris Hilton, Nicole Richie
também freqüentou a rehab para ganhar peso e se desintoxicar. Mas ela disse que
mudou desde o nascimento de sua primeira filha, Harlow Winter, em janeiro
passado. Nicole até fundou uma instituição para cuidar de crianças carentes.
Será que bateu a culpa?
No entanto, a
protagonista dos maiores escândalos é a cantora inglesa Amy Winehouse. Além do
estrondoso sucesso da faixa “Rehab”, de seu último CD, no qual canta “eles
tentaram me mandar para a reabilitação/ mas eu disse não, não, não”, Amy vive
às voltas com o consumo de álcool e drogas – com direito até a vídeo no
YouTube. Seu pai chegou a afirmar que ela sofre de bulimia. Apesar de tudo
isso, não dá para negar que essas atrizes e cantoras esbanjam talento sobre o
palco. Agora, o que não pode acontecer é querermos reproduzir o estilo de vida
que elas levam. Aí já é burrice.
Fonte: Revista
Criativa