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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Separação: lições do abismo


A psicoterapeuta Regina Navarro Lins comenta as reações e sentimentos que envolvem o fim de um relacionamento.
Tina, 32 anos, estava casada com Luís há cinco. Desde que o primeiro filho nasceu, parou de trabalhar para se dedicar a ele e ao outro que veio logo depois. Engordou 15 quilos e passou a viver em função do marido e dos filhos. Uma noite, quando preparava os enfeites para a festa do primeiro aniversário do filho mais novo, Luís a convidou para jantar num restaurante. Com muita franqueza colocou-a a par do que estava acontecendo. Apaixonou-se por uma moça que conhecera numa viagem e a partir daquele momento iria morar com ela. Reafirmou seu carinho e amizade, mas a decisão era irreversível. “Quando ouvi o que ele me disse, pensei que fosse desmaiar. Senti uma dor profunda no peito e não consegui parar de chorar por um bom tempo. A sensação era de que o mundo estava desmoronando, e me veio um enorme desejo de morrer.”
O fim de um relacionamento é tão doloroso, que muitos consideram o sofrimento comparável em intensidade à dor provocada pela morte de uma pessoa querida. Mas a separação inicia seu processo lentamente, na maior parte das vezes de forma inconsciente. A relação vai se desgastando e a vida cotidiana do casal deixa de proporcionar prazer. Chegar a perceber que o casamento traz mais frustrações do que alegrias é uma trajetória complicada. Não são raras as tentativas de desmentir o que se está sentindo, principalmente, pelas expectativas de realização afetiva depositadas na relação.
Muitas vezes, apesar de se ter uma visão clara do que está ocorrendo, adia-se qualquer tipo de decisão. “Antes de mais nada, o indivíduo começa a se sentir corroído pela dúvida e pela esperança de ter interpretado mal as coisas, apesar de seu mal-estar reiteradamente confirmar a exatidão das conclusões a que chegou. Todavia, continua a adiar uma decisão definitiva, na esperança secreta de que um milagre o faça voltar aos felizes tempos em que eram amantes e companheiros de vida.”, diz o psicólogo italiano Edoardo Giusti.
Da mesma forma que a criança pequena se desespera com a ausência da mãe, o adulto, quando perde o objeto do amor — seja porque foi abandonado ou porque o abandonou —, é invadido por uma sensação de falta e de solidão. Surgem medos variados como o de decepcionar os parentes e os amigos, fazer os filhos sofrer, ficar sozinho, ter problemas financeiros, e o mais ameaçador: o de nunca mais ser amado.
Há separações em que a hostilidade e o ódio pelo outro chegam a níveis extremos. É um sentimento de ter sido traído na crença de que através daquela relação amorosa estaria a salvo do desamparo, encontrando a mesma satisfação que tinha no útero da mãe, quando dois eram um só. A separação surge como testemunho da impossibilidade desse retorno ao estado de fusão, a essa identidade que se busca no outro. Ao se afastar, o parceiro estaria traindo as expectativas de complementação, desde sempre alimentadas. Além disso, na maioria dos casamentos as pessoas abrem mão da liberdade e da independência — incluindo aí amigos e interesses pessoais — e por isso se tornam mais frágeis em caso de ruptura.
O desespero que se observa em algumas pessoas durante e após a separação se deve também ao fato de cada experiência de perda reeditar vivências de perdas anteriores. Assim, não se chora somente a separação daquele momento, mas também todas as situações de desamparo vividas algum dia e que ficaram inconscientes. Em alguns casos, o objeto do amor na verdade nada significa, mas sua falta pode ser sentida de forma dramática.
Embora a separação seja uma experiência difícil para a maioria dos casais, nem todos se desesperam a ponto de desejar morrer. Algumas pessoas sofrem muito, outras menos e há até quem sinta certo alívio. As mentalidades estão mudando, e hoje a autorrealização das potencialidades individuais passa a ter outra importância, colocando a vida conjugal em novos termos. Acredita-se cada vez menos que a união de duas pessoas deva exigir sacrifícios. Observa-se uma tendência a não se desejar mais pagar qualquer preço apenas para ter alguém ao lado. É necessário que o outro enriqueça a relação, acrescente algo novo, possibilite o crescimento individual.
Após uma separação o alívio é maior do que o sofrimento e pode haver uma forte sensação de se estar renascendo, caso ocorram as seguintes hipóteses: ter havido qualquer tipo de opressão no casamento; se na relação que acabou já não houvesse mais desejo; se há a perspectiva de uma vida social interessante, pelo círculo de amizades; se a atividade profissional é prazerosa; se existe liberdade sexual para novas experiências e se estar só não for sinônimo de solidão ou desamparo.
(Por Regina Navarro - http://delas.ig.com.br)

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