Acompanhe: calço 32. Trinta e dois! Minha mão é de uma delicadeza
ímpar. Tenho 1,62 metro e voz de mocinha. Adoro derivados de rosa e
lilás. Caraca, sou feminina, porra! Perguntei então a esses moços onde é
que eu estava errando. O primeiro respondeu que tênis colorido com
cabelo preso e camiseta não são coisas de mulher. Mulher é aquele ser
que está sempre de salto e vestido de seda, com cachos esvoaçantes. Bom,
sinto informar, mas essa mina aí não trabalha dez horas por dia fazendo
longas reuniões de roteiros. Salto alto, seda e cabelos esvoaçantes são
para as mocinhas que passeiam no Cidade Jardim à tarde, não para as que
fazem reunião no Projac, no Rio, de manhã, na Editora Abril, em São
Paulo, à tarde e ainda vão madrugada adentro de frente para o
computador. Desculpa, mas minha rotina não permite que eu seja a Barbie.
O segundo respondeu que mulher é mais misteriosa. Mulher é mais
silenciosa. Mulher é mais sorridente. Mulher é mais pura… Bom, sinto
informar mas essa definição de mulher aí é de uma chatice sem fim. Meu
amigo, não se engane: mulher misteriosa é aquela que não tem nada a
dizer. Porque a mulher, quando interessante, não vai deixar de fazer um
comentário inteligente e engraçado e, muitas vezes (sim senhor!),
contrário à sua opinião. Se você quer uma sonsa sorridente que diga amém
para tudo o que você pensa, arrume uma boneca inflável (a boca dela só
abre para receber, e nunca para dividir algo. Que perfeição!). E a
boneca inflável, apesar da aparência de puta, é a única que chega virgem
e pode ter um único dono a vida toda: é só você não a esquecer à vista
quando der uma festa no seu apê.
O terceiro respondeu que mulher abusa mais de decotes, maquiagem,
perfume e penduricalhos. Olha, eu estou sempre maquiada (depois dos 30
ou você se maquila ou você se maquila), sempre perfumada (meu Deus, como
cheiro bem!) e uso brincos chiquérrimos que comprei com o suor do meu
trabalho e não ganhei de nenhum maridinho em agradecimento ao meu bom
comportamento de mocinha tímida. Agora, eu não vou usar uma desgraça de
perfume adocicado. Não vou usar um sino de vaca pendurado na orelha. Nem
enfiar minhas tetas na cara de um homem enquanto tento seduzi-lo. Tá,
confesso que fazia isso com 20 anos (insegurança é uma merda)… mas com
30? Acho bem mais sexy o cara imaginar que dentro da minha camisa de
extremo bom gosto reside um belo par de seios que, numa hora mais
oportuna (caso ele ria das minhas piadas e/ou faça melhores), podem ser
mostrados com riqueza de detalhes.
O quarto me respondeu que mulher tem de ser sexy e mulher engraçada
não é sexy. Você concorda com ele? Se sim, isso explica o seu casamento
chato, meu amigo. Porque se você tivesse alguém para te fazer rir, sua
vida seria incrível. Agora fique aí, com sua esposinha misteriosa
(leia-se desinteressante), essa que coloca imensos saltos e vai desfilar
pelo mundo com seus vestidos de seda em plena terça à tarde (leia-se:
interesseira, desocupada) e que não ri dos seriados com você, tampouco
faz piadas (leia-se: mala sem alça, chata, burra). Ela está muito
maquiada mas é para disfarçar sua cara de nada!
O quinto me respondeu que eu era melhor que ele. E que, por isso, não
conseguia pensar em mim como mulher. Achei tão honesto que até
teatralizei a virgem Carminha, uma prima do interior insegura e tímida
que usa pulseiras de miçangas cor-de-rosa transparente. De vez em
quando, para comer alguém, a gente tem de mentir um pouco.
(Por Tati Bernardi)
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