Uma pessoa que foi vítima de abuso sexual leva consigo
insegurança, culpa, depressão, problemas sexuais e de relacionamento íntimo,
baixa auto-estima, vergonha, fobias, tristeza, desmotivação, síndrome do pânico
e, além disso, podem ocorrer tendências suicidas.
A psicóloga Olga Tessari explica que a vítima se torna
estigmatizada, com uma tendência social de acusá-la direta ou indiretamente por
ter provocado ou estimulado o ato. Dessa forma, ela pode se considerar
"impura" ou "indigna" por pensar que, de algum jeito,
colaborou com o ocorrido. "Por mais que digam que ela não teve culpa, a
pessoa estuprada culpa-se", diz.
A mulher tende a imaginar que ninguém vai aceitar o que
aconteceu e que o parceiro pode rejeitá-la por ter sido estuprada. Os traumas
chegam a acarretar fadiga inexplicável, transtorno de apetite, insônia e falta
de atenção.
A coordenadora do curso de psicologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo
- UNASP, Tercia Pepe Barbalho, conta que, durante o estupro, o corpo da
mulher pode produzir as secreções responsáveis pela lubrificação e até mesmo
uma estranha excitação. O fato não acontece sempre, mas, quando ocorre, pode
levar a pessoa a sentir ainda mais culpa. É importante ressaltar que se trata
de uma defesa do organismo e não significa que houve de fato o prazer ou
consentimento.
Logo vem o medo de não conseguir se relacionar com o sexo
oposto ou aquele causador da violência e a desconfiança exagerada de tudo, além
do isolamento. Todos esses traumas podem gerar problemas físicos como
anorgasmia (falta de orgasmo), frigidez, falta de libido e fobia. Para atingir
o prazer, a pessoa precisa estar completamente relaxada e, após um estupro, ela
não consegue o feito, já que se lembra da cena do abuso durante a relação.
A psicóloga e perita Ester Esquenazi explica que a vítima
tende a negar qualquer tipo de sentimento e prazer para que sofra menos e acaba
se tornando insensível aos vínculos que possam trazer deleite. Por esse motivo,
inclusive, a insensibilidade dos órgãos genitais se torna uma forma de defesa.
Enfermidades como asma, epilepsia, diabetes, artrite, hipertensão e doenças
coronarianas aumentam e fogem do controle nas situações de agressão sexual.
O alto nível de ansiedade decorrente do abuso pode trazer
problemas como obesidade, anorexia, alergias, problemas do trato digestivo,
taquicardia, tontura, falta de ar, uso de bebida, cigarro e drogas. De acordo
com a psicóloga Silvana Peres, bissexualidade, homossexualidade, introversão e
até problemas de pele fazem parte da lista.
Cada pessoa absorve o trauma de uma forma diferente, de
acordo com a experiência de vida, valores e crenças. No geral, o primeiro passo
do tratamento terapêutico é conscientizar o paciente de que ele não teve culpa
no ocorrido, utilizando técnicas para reerguer a auto-estima. Dependendo da
pessoa, é sugerido um trabalho em conjunto com a família. Devido à intensidade
do trauma, em alguns casos, é preciso que um médico receite medicamentos que
variam de pessoa para pessoa.
Algumas mulheres superam o problema sozinhas. De qualquer
forma, na maioria da vezes, a pessoa simplesmente oculta a questão para si
mesma, não resolvendo, mas apenas escondendo. O profissional não deve tratar a pessoa
com sentimentos de pena, para que ela não se sinta vítima para sempre.
Caso a mulher tenha engravidado, tem a possibilidade, por
lei, de abortar a criança. Nesse ponto, questionamentos vêm a tona, como o
momento certo para gerar um filho ou não, sentir-se preparada para isso, saber
se vale a pena ter uma criança que é fruto de um momento tão indesejado e, ao
mesmo tempo, perguntar-se se deve interromper a gravidez, de acordo com a
religião e valores que carrega.
"Se a pessoa não resolver estes conflitos, certamente o filho será indesejado e sofrerá muito com os maus tratos dessa mãe que verá nele, a todo o momento, o fruto de um trauma que a fez sofrer e que a mantém em sofrimento", afirma Olga.
"Se a pessoa não resolver estes conflitos, certamente o filho será indesejado e sofrerá muito com os maus tratos dessa mãe que verá nele, a todo o momento, o fruto de um trauma que a fez sofrer e que a mantém em sofrimento", afirma Olga.
É o que acontece com *Helena. A técnica de enfermagem
sofreu de abuso sexual há 22 anos e até hoje vive sob o mesmo teto do agressor:
o marido, que não foi denunciado por medo. Como fruto do estupro ela teve uma
filha, com quem se esforça para manter uma boa relação, engordou, se tornou
ansiosa, nervosa, perdeu o emprego e não consegue ter amigos, porque o esposo
pode não gostar.
"Aconteceu na volta de uma viagem à casa de meus
pais. Ia passar 20 dias fora, mas acabei ficando uma semana a mais. Quando
cheguei, com meu filho pequeno, ele pegou o bebê, jogou num canto e me atacou
dizendo que queria saber se eu estava com outro na viagem e por isso demorei em
voltar. Eu avisei para ele que não podia ser daquele jeito, senão iria ficar
grávida e não tínhamos condições de ter outro filho ainda. Ele disse que se eu estivesse
grávida o filho não era dele e queria a prova de que eu tinha ficado 30 dias
sem ninguém. Por isso, me estuprou. Passei a ter medo dele. Tive uma filha e
odiava aquela criança. Nunca nos demos bem. Vi-me várias vezes dizer coisas
terríveis para ela. Depois me arrependia", conta.
Ester lembra que há alguns casos de estupro que foram tão
traumáticos, que não puderam ser superados de forma alguma. "Posso dar um
exemplo, onde uma mulher foi estuprada por sete homens e, apesar de todo
amparo, ela não agüentou o sentimento de ser usada e acabou se atirando no
metrô, causando morte imediata. Nos casos onde a recuperação é inatingível, o
suicídio é a opção que eles encontram", diz.
Para ir esquecendo ou amenizando os efeitos do
acontecido, a vítima deve, aos poucos, permitir o diálogo sobre o fato. A ajuda
do psicólogo é importante para extravasar sentimentos como raiva, repulsa, dor,
nojo e vergonha.
(http://www.olgatessari.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário