Amar Demais... Um Erro!

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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Adicção : Drogas, Álcool e Outros Comportamentos



Adicção (“Addiction”) – é uma dependência física e psicológica em relação a determinadas substâncias, actividades e relações. Através destas a pessoa procura um estado de gratificação imediata (prazer, euforia, alteração de estado de consciência, redução da tensão e ansiedade, alívio do sofrimento) apesar das consequências negativas que acarretam (isolamento, bloqueio do crescimento pessoal, doença, desaprovação social, perdas financeiras e de saúde, perda de relações significativas, violência, abuso, actividades criminosas e morte.)

Que tipos de Adicção existem?
Adicção a substâncias psicoactivas – dependência de drogas lícitas e ilícitas, álcool, tabaco
Adicção a actividades e comportamento – jogo compulsivo, sexo e pornografia, internet, trabalho, exercício físico, compras, distúrbios do comportamento alimentar – anorexia, bulimia e voracidade alimentar
Adicção ou co-dependência em relação a uma pessoa e a dinâmicas relacionais emocionalmente desgastantes, abusivas, obsessivas e desequilibradas que promovem a dependência e bloqueiam o crescimento e autonomia dos parceiros.

Como se manifesta?
Os sintomas, intensidade e consequências na vida da pessoa variam com os diferentes tipos de adicção. No entanto, existem alguns traços comuns.
Preocupação constante ou obsessiva em relação ao objecto de adicção (pessoa, substância, actividade) que ocupa o centro da vida da pessoa em detrimento de outras actividades recreativas e de bem-estar pessoal, negligenciando outras áreas da sua vida, responsabilidades familiares, profissionais e sociais;
Aumento da Tolerância: aumento progressivo do consumo (no caso das substâncias) e da frequência das actividades para obter os efeitos iniciais de prazer, euforia, “anestesia” ou sensação de preenchimento;
Síndrome de privação ou abstinência: a pessoa experiencia sintomas físicos e psíquicos de mal-estar, sofrimento, vazio e emoções perturbadoras quando fica privado do seu objecto de adicção, necessita da substância, relação ou actividade para se sentir que está a “funcionar normalmente”.
Perda de Controle sobre o comportamento: mantêm o mesmo comportamento apesar das consequências negativas e dos danos visíveis; não controla o impulso ou desejo intenso (Craving) para consumir ou actuar na sua adicção; a argumentação lógica, informação e o confronto com as consequências negativas para mostrar a “insanidade” do comportamento tornam-se insuficientes para a pessoa interromper o processo adicitivo;
Falham os esforços repetitivos para interromper o comportamento e quebrar o ciclo vicioso: ocorre um progressivo esvaziamento da força de vontade individual, aumento do isolamento, sentimentos de inadequação, resignação, baixa auto-estima, impotência, ansiedade e desespero;
Negação do problema, ambivalência e desresponsabilização: a pessoa nega, defende o seu comportamento, minimiza a gravidade, justifica, culpabiliza os outros ou circunstâncias pelo problema, ambivalência (por lado quer parar, mudar, por outro não….) adia a resolução do mesmo; o seu nível de consciência sobre o seu comportamento, seus efeitos, responsabilidade e meios para mudar é muito reduzido ou nulo.

O que pode acontecer se não interromper o processo adictivo?
Consequências negativas ao nível da saúde física e psíquica, na relação familiar, no desempenho pessoal, social, profissional e financeiro. Qualquer comportamento adictivo, pela sua natureza obsessiva e compulsiva, consome muito tempo e energia, que podiam ser gastos nos processos evolutivos normais e saudáveis; a pessoa perde oportunidades de crescimento e realização do seu potencial máximo. Tem sempre um custo pessoal, social, económico e espiritual!

Como começa e se desenvolve?
São vários os motivos que levam uma pessoa a usar substâncias psicoativas pela primeira vez ou recorrer a um determinado comportamento e actividade para obter prazer ou outro tipo de gratificação. Entre estes destacam-se a curiosidade, expressão de emancipação e criatividade, necessidade de aceitação, reconhecimento e afirmação, fascínio pelo risco ou acto ilegal, sensação de poder e invulnerabilidade, sensações de tranquilidade, relaxamento, preenchimento, alívio de stress, da ansiedade e outras emoções perturbadoras. Contudo, para que se transforme numa adicção é preciso a combinação dos seguintes factores:
1.  Pré-disposição genética ou susceptibilidade física e psíquica maior da pessoa para desenvolver comportamentos adictivos;
2. Persistência e repetição do comportamento e padrão de pensamento ao longo do tempo e sobre o qual a pessoa não tem consciência do seu potencial destrutivo;
3. Presença de reforços do meio familiar, social ou cultural que facilitam o acesso, modelam ou incentivam o desenvolvimento desse comportamento;
Na fase inicial do processo adictivo, o recurso ao objecto de adição funciona para a pessoa: proporciona-lhe bem-estar e é uma forma de dar resposta às suas necessidades; funciona e a pessoa repete! Mas à medida que se instala o padrão repetitivo e persistente, a pessoa não desenvolve outras formas saudáveis que satisfaçam as suas necessidades ou a ajudem a superar o mal-estar. Cria-se uma situação de desequilíbrio e de dependência. A partir de certa altura, o comportamento aditivo torna-se fonte exclusiva de prazer e alívio imediato, produz consequências negativas e torna-se o elemento limitador do processo de actualização e diversificação de experiências da pessoa.
 Já em estado de dependência, quando a pessoa experiencia sentimentos de vazio, perda de auto-estima, falta de sentido para a vida e sentimentos de culpa e revolta, quer pela perda de liberdade auto-infligida, quer pelos danos causados a outras pessoas significativas, tal experiência pode ser demasiado perturbadora. A pessoa reduz a sua consciência através de mecanismos de defesa, negando e minimizando a sua situação afirmando frequentemente: “não é tão grave assim…”; “eu controlo…paro quando quiser…”; “os outros também fazem…qual são o problema?”
Começam então as tentativas para controlar o comportamento; a pessoa afasta-se do objecto de adicção, tenta reduzir a frequência e sente a perda, “falta qualquer coisa”. Entra em estado de privação! Aqui a pessoa sofre o vazio, a ansiedade e em certas dependências surgem as perturbações físicas e psíquicas; o pensamento obsessivo produz o impulso para agir (voltar a estar com a pessoa, consumir, voltar a “ocupar” a mente, “desligar”, anestesiar, fantasiar…), para aliviar a tensão. Esta tensão é, por sua vez, é aumentada com a luta entre a força de vontade da pessoa que quer parar e outros mecanismos neurológicos e emocionais poderosos que forçam a repetição da experiência adictiva. É frequente verificar-se as adicções cruzadas ou substituição de adições, ou seja, de drogas para álcool, do álcool para o jogo ou comida, do trabalho para as relações ou sexo complusivo e vice –versa.
O princípio da mudança começa com a consciencialização e rendição. A pessoa reconhece e aceita que tem um problema e que precisa de ajuda; apesar de quer mudar não sabe como ou quando. Está dividida, a luta interna permanece, mas começa a dar uma oportunidade a si para procurar e aceitar ajuda, compreende que pela força de vontade isolada não consegue, começa a ter motivos fortes para mudar; ao aceitar apoio e ajuda começa a sentir que é capaz de superar; a aceitação da falência, das perdas e limitações requer humildade, a aceitação do facto de que está a lidar com mecanismos internos neurológicos e emocionais poderosos e que precisa de ajuda é um acto de rendição. Ao assumir para si próprio a sua derrota começa a ganhar! Com ajuda adequada e esperança começa o seu processo de recuperação.

Que tipo de ajuda existe?
Interromper um comportamento adictivo requer ajuda especializada:
Consultas de intervenção motivacional – têm como objectivo consciencializar a pessoa, ajudar a reconhecer a necessidade de mudança, motivar e orientar na procura de tratamento especializado ou apoios complementares;
Orientação e Intervenção familiar – são sessões que visam orientar a família em situações de crise, criar uma estratégia de intervenção para interromper o comportamento auto-destrutivo da pessoa em causa e encaminhar para serviços de apoio especializado;
Apoio na Recuperação e Prevenção de Recaídas – consultas individuais ou sessões de grupo que visam apoiar a recuperação da pessoa e regresso ao meio familiar, social e laboral, apoiando na gestão de stress, desenvolvimento de competências, antecipação de situações de risco e prevenção de recaídas.
Grupos de Entre-ajuda de 12 passos (Gratuitos): são grupos de encontro estruturados cujos participantes partilham o mesmo problema e o mesmo objectivo: recuperar de uma adicção! Identificam-se e oferecem entre si, suporte emocional e social, o conhecimento da experiência como estratégia de resolução. Em Portugal existem os seguintes grupos: Alcoólicos anónimos, narcóticos anónimos, co-dependentes anónimos, famílias anónimas, jogadores compulsivos
Centros de Tratamento e Reabilitação (Dependência de álcool e drogas): na dependência de álcool e drogas existem programas de Internamento de curta ou longa duração – a escolha de um tratamento de curta ou longa duração deverá seguir alguns critérios e indicações do diagnóstico médico:
 Internamento de longa duração com o mínimo de 3 meses estendendo-se a 2 anos, geralmente afastado do meio da pessoa, em espaços residenciais protegidos ou comunidades terapêuticas, indicado para os indivíduos que apresentam: problemas médicos sérios, ausência de estrutura familiar ou suporte social, problemas psiquiátricos associados, membros no agregado familiar com problemas de dependência de substâncias, resistência intensa ao tratamento;
Internamento de curta duração de 28 dias a 12 semanas com o complemento de apoio em ambulatório para a prevenção de recaídas, indicado para os indivíduos com uma história de dependência recente ou moderada, que ainda tenham uma estrutura e ambiente familiar relativamente seguros em relação ao uso de químicos, que estejam motivados para o tratamento e revelem, pelo menos, uma certa consciência do seu problema.

Tenho uma pessoa na família que precisa de ajuda, o que posso fazer?
Intervenção familiar! A intervenção familiar é um método poderoso e comprovado que quando conduzido eficazmente ajuda a interromper o ciclo vicioso da adicção e superar a situação de crise, ajudando a pessoa a reconhecer a necessidade de ajuda, orientá-la para tratamento ou outro tipo de ajuda; é um processo estruturado focado na solução que consiste em juntar um grupo de amigos, colegas, familiares e outras pessoas significativas da pessoa que sofre de adicção e que se juntam com o propósito único de apresentar e expressar com respeito, apreço e firmeza as suas preocupações e observações acerca do comportamento da pessoa. Existem passos a seguir para que a intervenção seja eficaz.

Sofri uma recaída, o que posso fazer?
A recaída é um fenómeno muito comum. A recuperação de um comportamento adictivo, envolve alterações no comportamento e no estilo de vida, é um processo gradual, profundamente pessoal, de mudança de atitudes, valores, sentimentos, objectivos, competências e papéis. A recaída é um sinal para identificar o que não está a funcionar e o que precisa de ser mudado. Não é fraqueza, nem derrota. Pode ser uma oportunidade de aprendizagem. O mais importante é sair da paralisação que a culpa, a vergonha ou a frustração possam criar; é pedir ajuda e identificar o que está a acontecer e que medidas precisa tomar.

Autor: Paula Serpa
Fontes:
Usos, Abusos e Dependências – Alccolismo e Toxicodependência. Coord. Borge, C. & Filho, H.(Ed. Climpesi)

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