Adicção (“Addiction”) – é uma dependência física e
psicológica em relação a determinadas substâncias, actividades e relações.
Através destas a pessoa procura um estado de gratificação imediata (prazer,
euforia, alteração de estado de consciência, redução da tensão e ansiedade,
alívio do sofrimento) apesar das consequências negativas que acarretam
(isolamento, bloqueio do crescimento pessoal, doença, desaprovação social,
perdas financeiras e de saúde, perda de relações significativas, violência,
abuso, actividades criminosas e morte.)
Que tipos de Adicção existem?
Adicção
a substâncias psicoactivas – dependência de drogas lícitas e ilícitas, álcool,
tabaco
Adicção
a actividades e comportamento – jogo compulsivo, sexo e pornografia, internet,
trabalho, exercício físico, compras, distúrbios do comportamento alimentar –
anorexia, bulimia e voracidade alimentar
Adicção
ou co-dependência em relação a uma pessoa e a dinâmicas relacionais
emocionalmente desgastantes, abusivas, obsessivas e desequilibradas que promovem
a dependência e bloqueiam o crescimento e autonomia dos parceiros.
Como se manifesta?
Os
sintomas, intensidade e consequências na vida da pessoa variam com os
diferentes tipos de adicção. No entanto, existem alguns traços comuns.
Preocupação
constante ou obsessiva em relação ao objecto de adicção (pessoa, substância,
actividade) que ocupa o centro da vida da pessoa em detrimento de outras
actividades recreativas e de bem-estar pessoal, negligenciando outras áreas da
sua vida, responsabilidades familiares, profissionais e sociais;
Aumento
da Tolerância: aumento progressivo do consumo (no caso das substâncias) e da
frequência das actividades para obter os efeitos iniciais de prazer, euforia,
“anestesia” ou sensação de preenchimento;
Síndrome
de privação ou abstinência: a pessoa experiencia sintomas físicos e psíquicos
de mal-estar, sofrimento, vazio e emoções perturbadoras quando fica privado do
seu objecto de adicção, necessita da substância, relação ou actividade para se
sentir que está a “funcionar normalmente”.
Perda de
Controle sobre o comportamento: mantêm o mesmo comportamento apesar das
consequências negativas e dos danos visíveis; não controla o impulso ou desejo
intenso (Craving) para consumir ou actuar na sua adicção; a argumentação
lógica, informação e o confronto com as consequências negativas para mostrar a
“insanidade” do comportamento tornam-se insuficientes para a pessoa interromper
o processo adicitivo;
Falham
os esforços repetitivos para interromper o comportamento e quebrar o ciclo
vicioso: ocorre um progressivo esvaziamento da força de vontade individual,
aumento do isolamento, sentimentos de inadequação, resignação, baixa
auto-estima, impotência, ansiedade e desespero;
Negação
do problema, ambivalência e desresponsabilização: a pessoa nega, defende o seu
comportamento, minimiza a gravidade, justifica, culpabiliza os outros ou
circunstâncias pelo problema, ambivalência (por lado quer parar, mudar, por
outro não….) adia a resolução do mesmo; o seu nível de consciência sobre o seu
comportamento, seus efeitos, responsabilidade e meios para mudar é muito
reduzido ou nulo.
O que pode acontecer se não interromper o
processo adictivo?
Consequências
negativas ao nível da saúde física e psíquica, na relação familiar, no
desempenho pessoal, social, profissional e financeiro. Qualquer comportamento
adictivo, pela sua natureza obsessiva e compulsiva, consome muito tempo e
energia, que podiam ser gastos nos processos evolutivos normais e saudáveis; a
pessoa perde oportunidades de crescimento e realização do seu potencial máximo.
Tem sempre um custo pessoal, social, económico e espiritual!
Como começa e se desenvolve?
São
vários os motivos que levam uma pessoa a usar substâncias psicoativas pela
primeira vez ou recorrer a um determinado comportamento e actividade para obter
prazer ou outro tipo de gratificação. Entre estes destacam-se a curiosidade,
expressão de emancipação e criatividade, necessidade de aceitação,
reconhecimento e afirmação, fascínio pelo risco ou acto ilegal, sensação de
poder e invulnerabilidade, sensações de tranquilidade, relaxamento,
preenchimento, alívio de stress, da ansiedade e outras emoções perturbadoras.
Contudo, para que se transforme numa adicção é preciso a combinação dos
seguintes factores:
1.
Pré-disposição genética ou susceptibilidade física e psíquica maior da pessoa
para desenvolver comportamentos adictivos;
2.
Persistência e repetição do comportamento e padrão de pensamento ao longo do
tempo e sobre o qual a pessoa não tem consciência do seu potencial destrutivo;
3.
Presença de reforços do meio familiar, social ou cultural que facilitam o
acesso, modelam ou incentivam o desenvolvimento desse comportamento;
Na fase
inicial do processo adictivo, o recurso ao objecto de adição funciona para a
pessoa: proporciona-lhe bem-estar e é uma forma de dar resposta às suas
necessidades; funciona e a pessoa repete! Mas à medida que se instala o padrão
repetitivo e persistente, a pessoa não desenvolve outras formas saudáveis que
satisfaçam as suas necessidades ou a ajudem a superar o mal-estar. Cria-se uma
situação de desequilíbrio e de dependência. A partir de certa altura, o
comportamento aditivo torna-se fonte exclusiva de prazer e alívio imediato,
produz consequências negativas e torna-se o elemento limitador do processo de
actualização e diversificação de experiências da pessoa.
Já
em estado de dependência, quando a pessoa experiencia sentimentos de vazio,
perda de auto-estima, falta de sentido para a vida e sentimentos de culpa e
revolta, quer pela perda de liberdade auto-infligida, quer pelos danos causados
a outras pessoas significativas, tal experiência pode ser demasiado
perturbadora. A pessoa reduz a sua consciência através de mecanismos de defesa,
negando e minimizando a sua situação afirmando frequentemente: “não é tão grave
assim…”; “eu controlo…paro quando quiser…”; “os outros também fazem…qual são o
problema?”
Começam
então as tentativas para controlar o comportamento; a pessoa afasta-se do
objecto de adicção, tenta reduzir a frequência e sente a perda, “falta qualquer
coisa”. Entra em estado de privação! Aqui a pessoa sofre o vazio, a ansiedade e
em certas dependências surgem as perturbações físicas e psíquicas; o pensamento
obsessivo produz o impulso para agir (voltar a estar com a pessoa, consumir,
voltar a “ocupar” a mente, “desligar”, anestesiar, fantasiar…), para aliviar a
tensão. Esta tensão é, por sua vez, é aumentada com a luta entre a força de
vontade da pessoa que quer parar e outros mecanismos neurológicos e emocionais
poderosos que forçam a repetição da experiência adictiva. É frequente
verificar-se as adicções cruzadas ou substituição de adições, ou seja, de
drogas para álcool, do álcool para o jogo ou comida, do trabalho para as
relações ou sexo complusivo e vice –versa.
O
princípio da mudança começa com a consciencialização e rendição. A pessoa
reconhece e aceita que tem um problema e que precisa de ajuda; apesar de quer
mudar não sabe como ou quando. Está dividida, a luta interna permanece, mas
começa a dar uma oportunidade a si para procurar e aceitar ajuda, compreende
que pela força de vontade isolada não consegue, começa a ter motivos fortes
para mudar; ao aceitar apoio e ajuda começa a sentir que é capaz de superar; a
aceitação da falência, das perdas e limitações requer humildade, a aceitação do
facto de que está a lidar com mecanismos internos neurológicos e emocionais
poderosos e que precisa de ajuda é um acto de rendição. Ao assumir para si próprio
a sua derrota começa a ganhar! Com ajuda adequada e esperança começa o seu
processo de recuperação.
Que tipo de ajuda existe?
Interromper
um comportamento adictivo requer ajuda especializada:
Consultas
de intervenção motivacional – têm como objectivo consciencializar a pessoa,
ajudar a reconhecer a necessidade de mudança, motivar e orientar na procura de
tratamento especializado ou apoios complementares;
Orientação
e Intervenção familiar – são sessões que visam orientar a família em situações
de crise, criar uma estratégia de intervenção para interromper o comportamento
auto-destrutivo da pessoa em causa e encaminhar para serviços de apoio
especializado;
Apoio na
Recuperação e Prevenção de Recaídas – consultas individuais ou sessões de grupo
que visam apoiar a recuperação da pessoa e regresso ao meio familiar, social e
laboral, apoiando na gestão de stress, desenvolvimento de competências,
antecipação de situações de risco e prevenção de recaídas.
Grupos
de Entre-ajuda de 12 passos (Gratuitos): são grupos de encontro estruturados
cujos participantes partilham o mesmo problema e o mesmo objectivo: recuperar
de uma adicção! Identificam-se e oferecem entre si, suporte emocional e social,
o conhecimento da experiência como estratégia de resolução. Em Portugal existem
os seguintes grupos: Alcoólicos anónimos, narcóticos anónimos, co-dependentes
anónimos, famílias anónimas, jogadores compulsivos
Centros
de Tratamento e Reabilitação (Dependência de álcool e drogas): na dependência
de álcool e drogas existem programas de Internamento de curta ou longa duração
– a escolha de um tratamento de curta ou longa duração deverá seguir alguns
critérios e indicações do diagnóstico médico:
Internamento
de longa duração com o mínimo de 3 meses estendendo-se a 2 anos, geralmente
afastado do meio da pessoa, em espaços residenciais protegidos ou comunidades
terapêuticas, indicado para os indivíduos que apresentam: problemas médicos
sérios, ausência de estrutura familiar ou suporte social, problemas
psiquiátricos associados, membros no agregado familiar com problemas de
dependência de substâncias, resistência intensa ao tratamento;
Internamento
de curta duração de 28 dias a 12 semanas com o complemento de apoio em
ambulatório para a prevenção de recaídas, indicado para os indivíduos com uma
história de dependência recente ou moderada, que ainda tenham uma estrutura e
ambiente familiar relativamente seguros em relação ao uso de químicos, que
estejam motivados para o tratamento e revelem, pelo menos, uma certa
consciência do seu problema.
Tenho uma pessoa na família que precisa de
ajuda, o que posso fazer?
Intervenção
familiar! A intervenção familiar é um método poderoso e comprovado que quando
conduzido eficazmente ajuda a interromper o ciclo vicioso da adicção e superar
a situação de crise, ajudando a pessoa a reconhecer a necessidade de ajuda,
orientá-la para tratamento ou outro tipo de ajuda; é um processo estruturado
focado na solução que consiste em juntar um grupo de amigos, colegas,
familiares e outras pessoas significativas da pessoa que sofre de adicção e que
se juntam com o propósito único de apresentar e expressar com respeito, apreço
e firmeza as suas preocupações e observações acerca do comportamento da pessoa.
Existem passos a seguir para que a intervenção seja eficaz.
Sofri uma recaída, o que posso fazer?
A
recaída é um fenómeno muito comum. A recuperação de um comportamento adictivo,
envolve alterações no comportamento e no estilo de vida, é um processo gradual,
profundamente pessoal, de mudança de atitudes, valores, sentimentos,
objectivos, competências e papéis. A recaída é um sinal para identificar o que
não está a funcionar e o que precisa de ser mudado. Não é fraqueza, nem
derrota. Pode ser uma oportunidade de aprendizagem. O mais importante é sair da
paralisação que a culpa, a vergonha ou a frustração possam criar; é pedir ajuda
e identificar o que está a acontecer e que medidas precisa tomar.
Autor: Paula Serpa
Fontes:
Usos,
Abusos e Dependências – Alccolismo e Toxicodependência. Coord. Borge, C. & Filho,
H.(Ed. Climpesi)
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