Amar Demais... Um Erro!

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Trecho do Livro : Com Licença eu Vou à Luta (Eliane Maciel)


"... Fui e sou objeto de muita gente; Sempre aquele relógio disparado, um espelho rondando em muitas faces que se refletem umas nas outras, formando alucinações loucas.
Sabem do que mais? Tudo o que escrevi acima está uma merda. É melhor assim, melodramático e lotado de autopiedade. No fundo, eu não passo de uma menina escondida no cantos do sofá, fazendo fita pra chamar atenção. Mereci e mereço ser usada, no final das contas, porque sou uma sem vergonha que nunca aprende e supervaloriza o que recebe e o que dá, principalmente. Podem acreditar agora.
Sou maluca, escrevo mal e nunca tocarei piano. Já fui religiosa, puta, desiludida, noiva, suicida, mal falada, líder, virgem. Já fui tudo o que estou tentando contar e não consigo porque doeu e dói. E aí eu morro de pena de mim mesma.
Mas meu sangue é jovem, minha força é viva, e eu me reconstruo depressa. Sou uma lagartixa. Cortem o meu rabo e verão.
Ainda não morri. Aliás, nem nasci. Estou gerando minha vida e o papel que vou ocupar nela. Demoro porque não quero o tempo e suas concepções destruidoras e igualizantes. Quero espaço aberto, quero dançar, me propagar e não ter nome.
Quero a liberdade com a qual se identifiquem os livres. Quero a matéria e o sentimento antimaterial. Quero ter cem anos e guardar meu frescor. Sem ter que jogar o que tenho de bom na lata do lixo em função de algum aniversário.
A mola que me move é acionada por uma esperança enlouquecida de não me encarquilhar mais para aqueles que não me deram nada.
Porque também fui (Ora se fui!) solteirona boazinha implorando carinho, daqueles que dão o ombro para todo mundo babar em cima.Andei com agulha,linha,botão,colchete e comprimido na bolsa.Era a rainha da disponibilidade,e me emocionava com os sorrisos gratos mais banais.
Pois, agora, chega.
Olhem aqui, "amigos" que sempre me tacharam de "ótima criatura", boa pra vocês usarem, e que nunca tinham me ouvido xingar um palavrão:
- Vão todos pra puta que pariu!!!
Me vendi a vocês de graça,até descobrir que vamos todos para o mesmo buraco; E que tudo que vocês me darão são flores murchas e rápidas passadas no cemitério, na hora do velório e nunca mais, se não tiverem nada mais importante para fazer. E repetindo, como sempre fizeram e não adiantou nada, "que eu era uma ótima criatura"!
Pois então me matem em vida, com uma faca no bucho, em qualquer ruela sem saída, depois de dar espontaneamente para algum tarado, ou ser currada na volta do meu trabalho honesto, digno e humilde de médica residente ou balconista, tanto faz. E que não me façam epitáfios, nem listinhas para um belo caixão ou uma coroa representando vocês, "os amigos". Que me enterrem como indigente em vala comum; E tomara que eu ainda seja boa de bunda, e já tendo nos olhos o brilho cadavérico, satisfaça os lúbricos desejos de algum coveiro vampiresco, retirado desses quadrinhos de terror erótico!"

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