Amar Demais... Um Erro!

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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Doentes pela beleza



A vaidade excessiva empurra milhões de pessoas para um caminho que ao invés da perfeição, tudo o que conseguem alcançar é a própria insatisfação pessoal.

Provavelmente você já se olhou no espelho e percebeu alguma coisa que queria mudar em si mesmo. Aumentar um pouquinho aqui, diminuir umas medidas ali, afinar o nariz, eliminar uma ruga... Enfim, quem nunca desejou ter as medidas certas, que atire a primeira pedra. Vaidade é normal. Mas quando ela passa a ser primordial, torna-se uma doença, um veneno para a auto-estima, mutilando-a e asfixiando o prazer de viver -principalmente de muitas mulheres - que sem perceber, ficam obcecadas em alcançar o padrão de beleza, o perfeito estético.
Cirurgias plásticas, tratamentos diversos, exercícios físicos em excesso e uma infinidade de cosméticos que prometem ajudar na ‘busca da perfeição’, escravizam milhões de mulheres, jovens e adolescentes todos os dias e revelam o lado feio e perverso nunca imaginado pelos discípulos da beleza. O resultado dessa luta infinita são pessoas frustradas com o próprio corpo, infelizes em relacionamentos pessoais, reféns de padrões de beleza inexistentes.
O psiquiatra Augusto Cury, autor do livro “A Ditadura da Beleza – e a revolução das mulheres”, (Ed. Sextante), alerta os leitores sobre essa escravidão através da estória de Sarah, uma linda modelo de 16 anos, que apesar de ter sucesso profissional e dinheiro, se tornou uma pessoa amarga, agressiva e depressiva em função da busca constante pela perfeição física. Obcecada e infeliz, Sarah resolve por fim na própria vida e nem sua mãe Elizabeth - editora de uma das mais importantes revistas femininas dos Estados Unidos - consegue libertá-la.
Desesperada com a atitude da filha, Elizabeth pede ajuda ao psiquiatra Marco Polo que em pouco tempo percebe que a protagonista é mais uma vítima da síndrome do PIB (Padrão Inatingível de Beleza), uma cruel realidade que oprime mulheres adolescentes e jovens que se revelam cada vez mais insatisfeitas com suas vidas. Aliados, Elizabeth e Marco Polo travam uma batalha e vão contra todos os interesses do mundo da beleza para conscientizar mulheres de todas as idades sobre a importância do amor próprio, da auto-estima e da perspectiva de vida.
Usando dados reais, Cury faz uma crítica aos padrões de beleza desejados e, que muitas vezes são impostos pela mídia. “Com vergonha de sua imagem, angustiadas, as pessoas consomem cada vez mais produtos em busca fagulhas superficiais de prazer. Qualquer imposição de um padrão de beleza esteriotipado para alicerçar a auto-estima diante da auto-imagem produz um desastre no inconsciente, um grave adoecimento emocional. Como não ficar perplexo ao descobrir que há dezenas de milhões de pessoas nas sociedades abastadas que, apesar de terem uma mesa farta, estão morrendo de fome, pois bloquearam o apetite devido à intensa rejeição por sua auto-imagem?”, relata Cury em seu livro, afirmando ainda que cada pessoa, independentemente de idade ou sexo, deveria ter um caso de amor com sua própria história de vida.
O professor e cirurgião plástico rio-pretense Antonio Roberto Bozola também alerta as mulheres para o perigo que a vaidade excessiva pode causar e assim como o psicanalista, afirma que muitos desses padrões são impostos pela sociedade a partir do nascimento do ser humano. “Desde cedo, a menina ganha brinquedos como estojos de maquiagem, esmaltes, que estimulam a vaidade e induzem-na a buscar a beleza inatingível”, diz o médico que completa afirmando que “não existe a beleza padrão. O que existe são conceitos de beleza. Por exemplo, a beleza da mulher brasileira é diferente da européia. Em resumo, pode-se dizer que isto é um conceito diferente de beleza”.
O especialista reafirma que nenhum exagero é saudável. “Há pessoas que se olham no espelho a vida inteira e não sentem absolutamente nada, não se preocupam com a aparência. Isso também não é bom. A vaidade não é um defeito. É uma virtude. Mas quando ela se torna mais importante que a própria felicidade é hora de parar e procurar o que está errado em nós mesmos”, diz.

Cirurgia no divã
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), das 616.287 mil intervenções realizadas no ano de 2004, 365.698 mil (59%) foram estéticas e 250.589 (41%) reparadoras. A grande procura ainda é a lipoaspiração que lidera o ranking com 54% da preferência principalmente entre as mulheres que, no mesmo ano somaram 425.288 mil (69%) - contra 190.999 mil homens (31%) - interessados em cirurgia plástica.
Embora a lipoaspiração seja o grande desejo do público feminino, o implante de silicone, botox e nariz ainda estão na lista das plásticas mais procuradas. Os números de intervenções estéticas, que não param de crescer, validam a pesquisa do psiquiatra Augusto Cury ao apontar que 98% das mulheres não se vêem belas e sofrem dessa doença psíquica e destrutiva. “Vivemos em uma paranóia coletiva”, afirma Cury em seu livro, acrescentando que a frustração corporal pode ter início em diversos pontos, inclusive nos psicológicos.
Em casos mais graves dessa fissura pela beleza a pessoa pode desenvolver a síndrome dismórfica corporal, uma doença ligada ao físico, em que a imagem refletida no espelho não é a imagem que a mente “vê”. Apesar de ser mais comum em mulheres, os homens também podem ser vítimas desta doença e o tratamento é feito com acompanhamento psiquiátrico e remédio antidepressivo. Um dos sintomas da síndrome é acreditar que pintas, pequenas cicatrizes, rugas ou até mesmo aquele indesejável pneuzinho são verdadeiros problemas que comprometem a sua personalidade e seus relacionamentos. A pessoa se sente inferior e pode chegar à depressão. “Neste caso a cirurgia plástica não vai saciar as necessidades. A mulher ou o homem sempre verá outros ‘defeitos’ no próprio corpo. A cirurgia plástica deve ser um coadjuvante na vida de uma pessoa. Independente da idade. Primeiro ela tem que estar bem consigo mesma para depois avaliar a necessidade de uma correção”, afirma Bozola.
A síndrome dismórfica corporal pode desencadear a temida anorexia nervosa, uma doença física perigosa que pode levar à morte, já que por pânico de engordar, muitas mulheres deixam de se alimentar.
“Atualmente inúmeras mulheres buscam a perfeição estética para tratar problemas psicológicos, que tiveram origem em outras situações ao longo da vida. Uma pessoa que está passando por uma dificuldade no casamento, por exemplo, não vai recuperar o marido se o problema não for a estética. É preciso que o cirurgião tenha uma conversa longa com a paciente, saiba seu histórico para detectar o porquê dessa necessidade de mudança. Se for o caso, o médico deve encaminhá-la, primeiro, para um psicólogo ou psiquiatra para depois que resolvido o problema de relacionamento, seja avaliada a real necessidade da cirurgia”, acrescenta Bozola.

Vaidade em potes
A fissura pela busca do corpo perfeito e da eterna juventude que enclausura milhões de mulheres também move outro mercado além da cirurgia estética, o da indústria da beleza. O apelo publicitário deste segmento agregado à vaidade excessiva de homens e principalmente de mulheres vendeu, no ano passado, um milhão e trezentas mil toneladas de cosméticos, perfumaria e produtos de higiene pessoal, além de alimentar o sonho de alcançar a perfeição. Os dados são da Agência Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).
Baseados em informações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Abihpec aponta que, em média, 25 novos produtos são registrados diariamente neste segmento. Por ano, o Brasil chega a colocar no mercado cerca de sete mil novos produtos e muitos deles prometem fazer com que o corpo não ‘sofra’ as marcas do tempo. Os “doentes pela vaidade” ajudaram nosso país a se posicionar em quarto lugar no ranking mundial de consumos de produtos de perfumaria, cosméticos e higiene pessoal, com índice de vendas de 17,6%, 15,8% e 13,4%, respectivamente e um faturamento de R$ 15,4 bilhões para o setor.
Um dos fatores que contribuiu para esse ‘estouro’ de vendas foi a mudança de hábitos das pessoas, que aconteceu principalmente com a ajuda da medicina. Na opinião do dermatologista João Carlos Pereira, se há 20 anos as pessoas se preocupavam em chegar aos 70 com mais saúde e deixavam de procurar tratamentos estéticos para cuidar de um problema cardíaco, por exemplo, hoje o cenário mudou. “Atualmente um indivíduo pode chegar aos 70 anos com saúde. E se a saúde física está bem, ela então vai cuidar da estética para tentar adiar o envelhecimento”, explica.
Para o especialista, na ânsia de melhorar rapidamente a aparência física e movidas pelo incessante apelo publicitário da indústria da beleza, as pessoas acabam indo na contramão do que seria o correto. “Ao invés de comprar um produto que promete ajudar na estética do corpo ou do rosto, as pessoas teriam primeiro que procurar um especialista para saber qual o tratamento ou creme adequado para utilizar, pois cada caso é um caso, existem tratamentos específicos para cada tipo de pele e que ajudam a obter o resultado desejado se forem aplicados corretamente. É importante lembrar que nenhum tipo de tratamento, seja cirúrgico ou cosmético, é milagroso”, alerta o dermatologista.
O cirurgião plástico Antonio Roberto Bozola também faz um alerta. ”Cuidar da mente é tão importante quanto do corpo. De que adianta um corpo lindo se a alma está mal? Comprometer a renda da família gastando muito dinheiro em busca da estética não é bom e nem aconselhável. Uma doença precisa ser tratada. Precisamos compreender que todos vamos atingir a velhice. Isso é inevitável”, enfatiza Bozola.

(Por Melissa Cerozzi - http://www.diarioweb.com.br)

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